sábado, 23 de janeiro de 2010

Semeador de ilusões !!!



A aldeia era distante, emergindo do meio das montanhas, reinava a pacatez e a simplicidade no seu seio, as pedras meticulosamente sobrepostas sem que nenhum arquitecto tivesse manifestado por lá seus ideais, e de forma a manter a estrutura das casas que albergavam gente humilde e trabalhadora, eram naturalmente sólidas e de uma beleza nativa, verdadeiras obras de arte cinzentas, (idealizadas em um serão de família), em nada comungando com o entusiasmo dessa gente nobre e trabalhadora, que pela madrugada se erguia ainda antes do sol nascer, que tomava a sua tigela de café onde ensoparia o pão endurecido tomado muitas vezes de pé, apressadamente, mas contudo sobrando tempo para atribuir as tarefas de cada um, pão esse ácido e escuro que lhe traria as energias necessárias para mais um dia de estenuante faina, pois havia o gado para tratar, a criação para alimentar, depois havia que aparelhar as vacas para trabalhar as terras.

E é aí no seio dessa comunidade que surge um jovem camponês, que se tornava independente a se iniciava na faina, iniciando sua produção própria, empenhado sem olhar sequer o relógio, (porque não possuía um), levantava-se muito antes de todos até mesmo antes de o sol começar a raiar, e comendo algo sem sequer parar, lá ia ele para cuidar do seu sonho, levando no seu alforge uma bucha que comeria ao meio do dia, para labutar para que seu ideal, lhe trouxe-se os frutos que se habituara a ver aquando das colheitas que vira fazer e em que participara desde criança, e sem se deter perante as intempéries, alheio à chuva que lhe gelaria os ossos ou mesmo ao sol que lhe daria a cor acastanhada da terra à sua pele, que lhe faria escorrer bátegas de árduo suor, e indiferente à dureza do solo, e alheando-se mesmo ao sangue que jorrava dos buracos nas suas mãos provocados pelo cabo da pesada enxada, nada o deteria e regressava muito depois do sol se pôr, exausto mas esperançoso, já noite dentro quando chegava a casa, para se recompor passando água pelo rosto e arrastando o corpo até a mesa onde comeria um caldo e uma fatia de pão antes de se estender na sua alcova, ainda tinha presente o que havia feito nesse dia de plantações, e simultaneamente idealizando o que seria mais logo o seu dia!

Aprendera à sua custa desde muito jovem que a terra é de quem a trabalha, que colheria daquilo que semeasse, porque seus pais o educaram nesse sentido, a terra era o único atributo que lhe proporcionava a possibilidade de ser próspero e de construir um futuro promissor.

Seus pais ensinaram-lhe que uma semente seria um fruto tempos depois, ele tinha uma formação e uma prática inigualável nas artes da plantação, sabia a hora e o tempo exacto de colocar uma semente na terra, o cuidado a ter com ela, até da quantidade de estrume e água que lhe seria necessária para que vingasse e produzisse, esqueceram porém de lhe ensinar como manter a plantação como dar continuidade, o carinho que devia devotar a esses rebentos, para que produzissem.

Assim com base em todos esses preciosos ensinamentos e sobretudo no seu sonho, estendia depois de muito elaborar a terra cada semente no seu preciso sítio, alegre, sempre sorrindo, de quando em vez limpando o suor no seu lenço vermelho que tirava do bolso de trás das calças, ou distraído à manga da camisa, em cada semente arremessada ele enviava um sonho, uma esperança.

Todos os requisitos estavam cumpridos, a terra estava tratada com todo o cuidado, fertilizada, loteada, e arrendada com longas mantas simetricamente distribuídas, parecia um jardim, as sementes (sonhos, esperanças) escolhidas entre as melhores, o que deixava adivinhar que decorridos os prazos chegaria uma colheita próspera, seria a sua primeira colheita, a realização dos seus ideais.

Agora era só esperar, manter a alegria e cuidar de seu pedaço de terra, mas aí é que havia uma carência, o desconhecimento a falta de acompanhamento logrou seus intentos.

De onde veria brotar naturalmente muito lentamente o verde das sementes enterradas.

Tardava essa visão.

Nesse meio tempo dialogava com sua vizinhança sobre suas aspirações, animado pela esperança, pois estavam lançados seus sonhos suas esperanças e logo viriam os frutos de sua persistência, esquecia entretanto de quantas necessidades havia após a plantação.

- Mas!

– Há sempre um mas… o ano não correu de feição, e a terra acusou o facto, fechou-se e negou a esse sonhador o glória de ver coroadas a sua coragem e o seu empenho, faltaram os elementos naturais, e ele não cuidara devidamente para contrariar esse facto, e o que seria de um verde esplendoroso e frutífero, era cenário negro de desolação e desanimo.

Tudo se mantivera seco e árido, não vingaram essas esperanças, esses sonhos.

Entretanto com ele crescera outro irmão mais velho, que ao invés dele se dedicara ao plantio de pomares que por sua vez tinham produzido em excesso, pelo acompanhamento e carinho dedicado…

Sem se melindrar com a desdita, recusou invejar ou amaldiçoar algo ou alguém, muito menos a baixar os braços ou a desistir.

Agradeceu a Deus os ensinamentos tirados da sua luta, de um ano de aprendizagem e de renovação das esperanças, preparou de novo o que iria ser o recomeço, a nova tentativa de realização dos seus sonhos o recomeçar da sua labuta, da sua persistente luta para provar que quem idealiza e age no sentido de realizar seus intentos, de seguida vai poder obter os frutos do seu empenho.

E eis que chega a hora de por em prática, de recomeçar, aí a esperança leva-o de novo ao seu plantio de sonhos, e de novo a mesma esperança, o mesmo estilo de vida os mesmos hábitos, as mesmas forças animadores, e a terra estava de novo plantada…

e depois?

Havia algo que ele ainda não aprendera, não se apercebera…

Restava-lhe agora esperar os frutos desse trabalho.

Mas mais uma vez o seu trabalho por falta de conhecimentos no campo da manutenção anulara as suas espectativas, contrariamente ao seu irmão, que era mestre na arte de cuidar e acarinhar de acompanhar e tratar suas plantações, depressa se apercebeu que mais uma vez seus sonhos não eram mais que meras ilusões.

Mas mais uma vez ele agradeceu a Deus e mostrou-se disposto a recomeçar tudo de novo no ano seguinte!

É assim, muitas vezes nascem pessoas que encetam na realização dos seus sonhos, parece que as coisas lhes surgem do nada, nós é que não nos apercebemos que não basta semear, temos que cuidar, como ele fazem, nada surge de lado nenhum e preciso criar e manter.

São esses que têm uma vida mais equilibrada e estável.

Mas são os que lutam e persistem nas suas ilusões que dão sentido à vida, que têm o sabor especial de ter tido um motivo para viver, para dar graças a Deus por os manter vivos sabendo que poderão não ter os frutos excedentários da sua alegria aqui na terra, mas que um dia decerto colherão de uma vez tudo o que plantaram nesta vida…

Semear; esperança, ilusões, sonhos, e amor; como ele, leva-nos ao conhecimento de que se não desistirmos e lutarmos, se plantarmos e cuidarmos, estará garantida a colheita…


(Assim simultaneamente se devem cultivar nossas amizades, pois não basta consegui-las, é preciso muito carinho e dedicação para que não sinta-mos a desolação de perder um Amigo…)


obs: Encontrei esse texto em um blog de uma amiga e achei muito interessante.

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